Uma obra de arte é o resultado singular de um temperamento singular, sua beleza provém de ser o autor o que é, e nada tem a ver com as outras pessoas quererem o que querem.
Com efeito, no momento em que um artista descobre o que estas pessoas querem e procura atender a demanda, ele deixa de ser um artista e torna-se um artesão maçante ou divertido, um negociante honesto ou desonesto. Perde o direito de ser considerado artista.
A Arte é a manifestação mais intensa de individualismo que o mundo conhece. Sinto-me inclinado a dizer que é a única verdadeira manifestação sua que ele conhece. Em determinadas condições, pode parecer que o crime tenha dado origem ao individualismo. Para a execução do crime é preciso, no entanto, ir além da alçada própria e interferir na alheia.
Pertence à esfera da ação. Por outro lado, sozinho, sem consultar ninguém e livre de qualquer interferência, o artista pode dar forma a algo de belo; e se não o faz unicamente para sua própria satisfação, ele não é um artista de maneira alguma.
Cumpre observar que é o fato de ser a Arte essa forma intensa de individualismo que leva o público a procurar exercer sobre ela uma autoridade tão imoral quanto ridícula, e tão aviltante quanto desprezível.
A culpa não é verdadeiramente do público. Este nunca recebeu, em época alguma, uma boa formação. Está constantemente pedindo à Arte que seja popular, que agrade sua falta de gosto, que adule sua vaidade absurda, que lhe diga o que já lhe disseram, que lhe mostre o que já deve estar farto de ver, que o entretenha quando se sentir pesado após ter comido em demasia, e que lhe distraia os pensamentos quando estiver cansado de sua própria estupidez.
A Arte nunca deveria aspirar à popularidade, mas o público deve aspirar a se tornar artístico.
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