terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Hans Joachin koellreutter e a música no Brasil

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O compositor alemão H.J.Koellreutter, contribuiu com sua arte e idéias para a vanguarda da educação musical no Brasil.
Gostaria de deixar aqui um convite à reflexão sobre as idéias de Koellreutter esboçadas no manifesto do Música Viva de 1946.
Este documento compõe grande parte do pano de fundo para uma prática tanto artística quanto educacional digamos, coerente.



MÚSICA VIVA

MANIFESTO 1946
Declaração de Princípios

A música, traduzindo idéias e sentimentos na linguagem dos sons, é um meio de expressão; portanto, produto da vida social.

A arte musical – como todas as outras artes – aparece como super- estrutura de um regime cuja a estrutura é de natureza puramente material.

A arte musical é um reflexo do essencial na realidade.

A produção intelectual, servindo-se dos meios de expressão artística, é função da produção material e sujeita, portanto, como esta, a uma constante transformação, a lei da evolução.

Música é movimento.

Música é vida.

“ MÚSICA VIVA” compreendendo este fato combate pela música que releva o eternamente novo, isto é: por uma arte musical que seja expressão real da época e da sociedade.

“MUSICA VIVA” refuta assim a chamada a arte acadêmica, negação da própria arte.

“MÚSICA VIVA”, baseada nesse principio fundamental, apóia tudo o que favorece o nascimento e crescimento do novo, escolhendo a revolução e repelindo a reação.

“MÚSICA VIVA”, compreendendo que o artista é produto do meio e que a arte só pode florescer quando as forças produtivas tiverem atingido um certo nível de desenvolvimento, apoiara qualquer iniciativa em prol de educação não somente artística, como também ideológica; pois, não a arte sem ideologia.



“MÚSICA VIVA”, compreendendo que a técnica da música e da construção musical depende da técnica da produção material, propõe a substituição do ensino teórico-musical baseado em preconceitos estéticos tidos como dogmas, por um ensino cientifico baseado em estudos e pesquisas das leis acústicas, e apoiara as iniciativas que favoreçam a ultilização artística dos instrumentos radio-elétricos.

“ MÚSICA VIVA”estimulara a criação de novas formas musicais que correspondam às idéias novas, expressas numa linguagem musical contrapontístico-harmônica e baseada num cromatismo diatônico.

“ MÚSICA VIVA”, repele, entretanto, o formalismo, isto é: a arte na qual a forma se converte em autônoma; pois, a forma da obra de arte autêntica corresponde ao conteúdo nela representado.

“ MÚSICA VIVA”, compreendendo que a tendência “ arte pela arte” surge num terreno de desacordo insolúvel com o meio social, bate-se a porta pela concepção utilitária da arte, isto é, a tendência de conceder às obras artísticas a significação que lhes compete em relação ao desenvolvimento social e à super-estrutura dele.

“ MÚSICA VIVA”, adotando os princípios de arte-ação, abandona como ideal a preocupação exclusiva de beleza; pois, toda a arte de nossa época não organizada diretamente sobre o princípio da utilidade será desligada do real.

“ MÚSICA VIVA” acredita no poder da música como linguagem universalmente inteligível e, portanto, na sua contribuição para a maior compreensão e união entre os povos.

“ MÚSICA VIVA”, admitindo, por um lado, o nacionalismo substancial como estágio na evolução artística de um povo, combate, por outro lado, o falso nacionalismo em música, isto é: aquele que exalta sentimentos de superioridade nacionalista na sua essência e estimula as tendências egocêntricas e individualistas que separam os homens, originando forças disruptivas.

“ MÚSICA VIVA” acredita na função socializadora da música que é a de unir os homens, humanizando-os e universalizando-os.



“MÚSICA VIVA” compreendendo a importância social e artística da música popular, e apoiara a qualquer iniciativa no sentido de desenvolver e estimular a criação e divulgação da boa música popular, combatendo a produção de obras prejudiciais à educação artístico-social do povo.

“MÚSICA VIVA”, compreendendo que o desenvolvimento das artes depende também da cooperação entre os artistas e das organizações profissionais, e compreendendo que a arte somente poderá florescer quando o nível artístico coletivo tiver atingido determinado grau de evolução, apoiará todas as iniciativas tendentes a estimular a colaboração artístico-profissional e a favorecer o desenvolvimento do nível artístico coletivo; pois a arte reflete o estado de sensibilidade e a capacidade de coordenação do meio.

Consciente de missão da arte contemporânea em face da sociedade humana, o grupo “MÚSICA VIVA”, acompanha o presente em seu caminho de descoberta e de conquista, lutando pelas idéias novas de um mundo novo, crendo na força criadora do espírito humano e na arte do futuro.

Rio de Janeiro, 01 de Novembro 1946.
CF. boletim Música Viva, nº12, Jan./ 1947 [ sic].
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